por Caroline Yamasaki
Halka – A energia do círculo é um espetáculo que nos apresenta à acrobacia do Groupe Acrobatique de Tanger. É preciso desapegar da possível incompreensão do que acontece enquanto trama – a companhia opta por não fazer uso de tradução a fim de abrir possibilidades subjetivas de entendimento pela plateia que irá assistir. Com o uso de elementos cênicos que interagem com o elenco, as cenas são sempre coletivas preenchendo todo o palco. São 14 em cena, sendo 10 acrobatas homens, 2 acrobatas mulheres e 2 músicos que executam a trilha ao vivo com instrumentos marroquinos.
Ao início os acrobatas formam um círculo central em que todos giram. Divididos em pares, metade deles conduz a outra metade por uma faixa amarrada na cintura e os que tem a faixa amarrada dão giros. Posteriormente em conversa com o grupo soubemos que este é o modo como a acrobacia é transmitida no Marrocos, geralmente por famílias em que há a prática da acrobacia, que neste país vem de tradição militar, os mais velhos conduzem os mais novos através desta técnica. Soubemos também que a acrobacia é praticada em praças e praias, o que nos leva a compreender a cena final, uma das mais animadas do espetáculo em que todos em um círculo, com palco, agora coberto por areia, cantam, dançam e se alternam executando pirâmides e saltos mortais.
Em momentos fui levada a sensações que me remeteram à disputa de poder – há uma cena em que uma acrobata tenta orquestrar o grupo; vida em coletivo – com cenas lembrando feiras; celebração de tradições e a percepção da importância dos encontros em círculos, possivelmente a Halka, a energia do círculo – no início e final do espetáculo quando o grupo desenvolve cenas circulares
O espetáculo é rico visualmente – com desenho de luz preciso que vezes forma círculos, outras quadrados, há um momento com duas finas quedas de areia que junto às coreografias e acrobacias preenche todo o espaço cênico; e sonoramente, com cantos, palmas e instrumentos típicos do país africano. Comunica de sua alguma maneira sem o apelo a estereótipos, entregando uma experiência que instigou a compreender mais do enredo, da cultura marroquina e das diversas formas em que são realizadas as práticas circenses mundo afora.
Texto produzido durante o laboratório (Dis)Parem as máquinas! – fundamentos e práticas de crítica circense, sob supervisão de Maria Carolina Vasconcelos Oliveira.