Halka – a energia do círculo

por Caco Mattos

Halka (A Energia do Círculo), criado coletivamente pelo Grupo Acrobático de Tanger, explora as várias possibilidades da acrobacia se utilizando de outras linguagens como o canto, dança, música, representação, jogos e brincadeiras para a criação de um espetáculo festivo e poético.

O círculo está presente em vários momentos do espetáculo: no objeto de metal vermelho, muito próximo de um barril de latão recortado que é utilizado e ressignificado de várias maneiras, como instrumento musical, manipulado para os jogos de cena, como escada quando é segurado em várias alturas para que uma integrante do grupo se desloque pelo palco, na transmissão de aprendizado como um ritual de iniciação acrobático, nas rodas para se contar uma história e na própria acrobacia. Essa relação com o círculo, pressupõe que tudo está em constante movimento, em constante transformação, assim como a impermanência da vida. São quatorze integrantes, dentre eles duas mulheres que se revezam numa dinâmica festiva, criando situações efêmeras. 

Mais do que a excelência da técnica na realização das acrobacias e portagens, o que é interessante observar, é estado de espirito e o prazer de estarem presentes em cena. É desse estado que se advém o carisma, segundo a palhaça Ângela De Castro.

É um espetáculo metafórico e muitas sensações são despertadas no espectador e mensagens subliminares são transmitidas. A barreira da língua, pois eles falam e cantam em árabe durante todo o espetáculo, não nos permite termos acesso aos conteúdos do que é dito ou cantado em cena. Segundo uma conversa após o espetáculo com alguns integrantes do grupo, essa é uma escolha intencional.

Com essa escolha, eles permitem que cada espectador tenha uma relação subjetiva na relação com a obra. Afinal, como diz o músico e compositor Jean- Jacques Lemêtre do Théâtre du Soleil, o público tem que fazer o seu papel, que é refletir sobre o que assiste.

Texto produzido durante o laboratório (Dis)Parem as máquinas! – fundamentos e práticas de crítica circense, sob supervisão de Maria Carolina Vasconcelos Oliveira.