Ordinários bufões, poetas e durões

por André Sibaldo

Ordinário: comum; que se repete; de pouca ou má qualidade; de fraco valor moral ou intelectual. Some estes conceitos a muitas risadas, a um enredo que brinca com o antigo e o novo, a detalhes sinérgicos de trilha sonora e iluminação e, ainda, a uma atuação inigualável de personagens bufões, poetas e durões.

Três soldados são representados por Filipe Bregantim, Fernando Paz e Fernando Sampaio e, desde o início, fica claro que nenhum deles tem coragem, habilidade ou experiência necessárias à sua missão: resgatar um desconhecido de alta patente num terreno hostil.

Com interações em diversas esferas, os personagens sincronizam riso com emoção, sendo fácil para o público criar proximidade com suas identidades e, de quebra, desconstruir valores morais tão presentes na sociedade contemporânea. E é desta sociedade em crise que surge em cena a crítica ao autoritarismo vigente, à corrupção recorrente e à violência física e psicológica.

Personalidades que pareciam tão divergentes encontraram na arte algo em comum: a chance de sobreviver em meio à guerra cotidiana. A tensão aumenta, a platéia ganha foco e se torna parte do elenco com Deus e o Diabo ao fundo num embate histórico. A tragicomicidade se mistura à magia nos transportando para um lugar de paz e nos trazendo de volta à realidade caótica, injusta e dolorida.

Afinal, “como vencer uma guerra quando, mesmo antes de começar, as minas já estão postas?” Ordinários nos faz rir da morte com alegria sem esquecer de chorar a beleza da vida.

Texto produzido durante o laboratório (Dis)Parem as máquinas! – fundamentos e práticas de crítica circense, sob supervisão de Maria Carolina Vasconcelos Oliveira.

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Sobre tomates, tamancos e tesouras não é um espetáculo obsessivamente preocupado em arrancar risada do público a cada minuto, a cada fala, a cada esquete ou cena. O humor é calculado, ‘encaixado’ no roteiro sem pressa nem ansiedade, provando que no solo de uma palhaça também há espaço para a melancolia, a tristeza, o silêncio, a angústia do fracasso.

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