Circo é… circo

Pensar um festival de circo contemporâneo é exercício que mescla experiências, memórias e conceitos, permitindo vislumbrar o que há de novo na cena artística. São muitas as etapas antes dos espetáculos serem apresentados, das atividades formativas propiciarem suas trocas de conhecimentos. A primeira dessas etapas é a curadoria que, neste ano, começou com diálogos entre a equipe do Sesc e um grupo de artistas brasileiros. Eles apresentaram suas inquietações sobre o fazer circense contemporâneo e contribuíram para aproximar ainda mais o trabalho da instituição do que é produzido Brasil afora.

Nas quatro primeiras edições, o CIRCOS – Festival Internacional Sesc de Circo refletiu sobre temas caros à linguagem – como dramaturgia circense; risco e virtuose; caminhos do circo no Brasil; e conceitos de fronteira, como borda, centro e identidades. Para esta quinta edição, cabia-nos o desafio: quais as reflexões mais importantes para o momento atual? Afinal, o que é circo?

O conjunto de trabalhos selecionados aponta para uma cena complexa e em processo, representativa de uma das principais tendências contemporâneas. A música, o teatro, a dança, que sempre se relacionaram com o circo, hoje são pensados como elementos estruturantes de vários espetáculos, sendo fundamentais na produção brasileira e internacional. Vislumbramos, assim, novas possibilidades estéticas que estimulam a criação a partir de mesclas, misturas, interdisciplinaridades: o circo para além de suas bordas.

Para a abertura do Festival, por exemplo, selecionamos um espetáculo inglês que tem seu desenho de movimento inspirado em trabalhos da famosa coreógrafa alemã Pina Bausch. Nele, é marcante a sincronia entre elementos tipicamente circenses – como o malabarismo – e elementos do universo coreográfico. Entre os brasileiros, um dos trabalhos de palhaçaria incluídos na programação simula um filme mudo dos anos 1920, a partir de figurinos, maquiagem e efeitos de iluminação – cria, assim, a ilusão de que o público está vendo um filme mudo ao vivo no palco. Esses são exemplos de uma tendência importante da produção atual: a integração do circo com outras linguagens é, sem dúvida, algo enriquecedor. O que é o circo, senão espaço de integração, em que todas as pessoas e todas as formas de arte são bem-vindas?

A renovação do coletivo circense no mundo atual, assim, passa pela ação do circo de se abrir ainda mais: não apenas para receber todos que desejam fugir com ele, mas para acolher saberes que ampliam sua denominação de maior espetáculo da Terra. Que o CIRCOS possa provocar encontros potentes entre públicos, artistas e obras, contribuindo para a instauração de novos coletivos – dentro e fora do picadeiro – e de muitos novos pensamentos sobre o fazer circense. Afinal, circo é… circo.

 

Lúcia Nascimento e Marina Zan
Curadoria
Assistentes de circo da Gerência de Ação Cultural do Sesc São Paulo

Compartilhe

Programação Dia a dia