Atividades formativas

Verticalizar. Deslocar-se do mais alto ao mais profundo. Escalar, cavar.

Uma das grandes proezas do circo é alcançar a verticalidade. Tão longe o artista está do chão, em saltos, em suspensão, tão alto estará o objeto da criação, a proeza, o que se consegue realizar ocupando esse espaço vertical. O circo aprofunda a pesquisa em técnicas circenses para alcançar a virtuose.

Horizontalizar. Deslocar-se no plano de múltiplas linguagens, em múltiplas direções. Multidisciplinaridade.

Aqui há muito movimento. Há deslocamentos do circo em direção à dança, à música, ao teatro, às artes visuais. Do picadeiro ao palco, à rua, ao hospital, à água. Aos bambus, às folhas de papel, a elásticos, à madeira. Em cada um desses pontos, os circenses verticalizam algum conhecimento para realizar suas obras. Ainda que o Brasil não tenha um espaço de formação em nível superior para o desenvolvimento de pesquisa e formação de mestres, um espaço formal para verticalizar o conhecimento sobre o circo, buscamos espaço entre os pares da cena, o teatro e a dança, para produzir e sistematizar o conhecimento empírico de artistas e companhias. Aqui criamos o circo em condições cada vez mais precárias, mas continuamos o espetáculo, porque ele “tem sequência”.

Nós, circenses, verticalizamos o domínio do movimento, mas verticalizamos pouco o conhecimento. O circo é muito realizado, mas pouco pensado.

Vivemos um tempo em que valorizar o diálogo a partir da diversidade estética das obras é também uma possibilidade de testemunhar o retrato da diversidade cultural e valorizá-la. Na quinta edição do Circos – Festival Internacional Sesc de Circo, observaremos o mundo a partir da perspectiva de artistas de 20 países e diversos pontos do Brasil. Será uma bela oportunidade de deslocar-se no horizonte.

Afirmamos essa diversidade estética como um valor e entendemos que nós, realizadores do circo, devemos também abraçar a escrita, o estudo, a palavra e o pensamento. Por isso as atividades formativas do Circos 2019 buscam verticalizar a reflexão sobre o espaço da direção e da dramaturgia, cada vez mais responsáveis pela potência das obras contemporâneas. Discutiremos como os diretores, dramaturgos e artistas circenses vêm traduzindo “truques”, proezas – células fundamentais da linguagem –, exercitando entendimentos das metáforas propostas e situando suas obras na história do circo.

Outro eixo vertical é a crítica em circo. Ela tem a função de compreender e “traduzir” as obras ao público em geral, por meio da análise das obras, colaborando com o entendimento do que se faz hoje no circo brasileiro. A crítica nos põe em perspectiva com nosso tempo e com a história da arte e essa perspectiva permite que a linguagem avance.

Para os pequenos e grandes com espíritos curiosos, cinco laboratórios permitirão uma introdução às técnicas e princípios que envolvem as artes do circo, de forma lúdica e criativa.

São onze dias de oportunidades para pensar, escrever, questionar, experimentar, provocar, criar relações, colocar-se em perspectiva, em xeque. Assim estimulamos nosso crescimento em múltiplas direções.

 

Lisa Gianetti é educadora cultural na Fábrica de Cultura Itaim Paulista, do Catavento Cultural, onde dá aulas de circo para crianças, jovens e adultos. Foi orientadora corporal da performance Movacidade para a 11ª Bienal de Arquitetura de São Paulo. Dirigiu a montagem da Festa do Circo no Liceu Pasteur de São Paulo, com mais de 400 crianças em cena. Foi curadora de Circo da Casa de Cultura e Cidadania, iniciativa social para crianças e jovens; orientadora artístico-pedagógica da Cia Cênica Aruanã; membro da equipe de coordenação e arte educadora da Cooperação Criativa, que integrava narrativas de histórias, artes circenses e artes visuais.

Rodrigo Matheus é fundador e diretor artístico do Circo Mínimo. Formado em Artes Circenses pelo Circo Escola Picadeiro de São Paulo e Fool Time Circus Arts de Bristol (Inglaterra), fez mestrado em Artes Cênicas, com trabalho sobre o circo contemporâneo no Brasil, na Unesp (Universidade Estadual Paulista). Foi um dos idealizadores, fundadores e diretores da Central do Circo e do Cefac (Centro de Formação Profissional em Artes Circenses). Como diretor de espetáculos circenses, fez trabalhos para o Nica (National Institute of Circus Arts), em Melbourne (Austrália), e o Circus Space, em Londres (Inglaterra), entre outros. É também professor de técnicas circenses e práticas relacionadas ao circo contemporâneo.

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